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"Ao fundo sou eu, mas será verdade / que sou? O fundo é que me inventa? / Terei mesmo essa identidade / feita de tinta apenas?" Palavras que respiram por Miguel Marvilla

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

De como uma palavrinha besta demonstra o equívoco do juízo


Em certa produção acadêmica do Mestrado em Letras/UFES sobre Muito soneto por nada, de Reinaldo Santos Neves, me espanto diante do julgamento superficial do acadêmico, que não soube avaliar com justeza a análise do livro, adequada ao nível de um estudante de ensino médio, desmerecendo assim o roteiro que se pretendeu e, o pior, o nível de compreensão do aluno de ensino médio, embora em nenhum momento tenha citado o Manual de Literatura Brasileira: VEST-UFES 99/2000 produzido por docentes universitários.  Pecou pelo adjetivo. Poderia ter 
usado, sem julgamento, a palavra “didáticos”.


“Por ter sido indicado como leitura obrigatória para o vestibular da Ufes, a obra rendeu tanto textos superficiais em material destinado a estudantes de ensino médio quanto um trabalho de fôlego como a dissertação de mestrado de Luiz Romero de Oliveira, defendida no Programa de Pós-graduação em Letras da Ufes em 2000, intitulada O destino de uma escrita: O amor e a espera em Sueli: romance confesso e Muito soneto por nada de Reinaldo Santos Neves.”

domingo, 14 de dezembro de 2014

Comentários sobre a Prova de Redação do PS/UFES 2015 (Parte 3)

Não é a primeira vez que a UFES propõe uma descrição em processo seletivo. Aliás, essa tipologia textual também faz parte de nosso cotidiano. Valem os sentidos, principalmente os físicos, para descrever um objeto, nesse caso um espaço cultural. O candidato poderia começar abordando a importância desse espaço para o desenvolvimento cultural de sua comunidade (rua, bairro ou cidade). Obviamente, além dos aspectos físicos, como dimensões, material, cores, entre outros elementos de sua arquitetura, também poderiam ser apresentados aspectos mais abstratos, como sua função, por exemplo, projetando-se um lugar de encontros, de aquisição de conhecimento e divulgação de variadas obras de arte, seja um parque, um jardim botânico, seja uma galeria de arte com sala de espetáculos e projeção de filmes. Nossa cidade tem alguns espaços culturais que poderiam servir de modelo para essa composição. No que diz respeito à estrutura de um texto descritivo, é bom lembrar que também a descrição deve seguir uma certa ordem no seu desenvolvimento: importância, função, aspectos físicos e aspectos mais abstratos. Evidentemente, qualquer outra sequência também poderia ser estabelecida. Entre as três questões, essa possivelmente foi a de menor grau de dificuldade, haja vista que existem lugares assim espalhados por nosso país. Também aqui o candidato poderia usar modelos do mundo real ou da própria imaginação.

Em suma, as três propostas ofereceram oportunidades de pensar por escrito. Parabéns aos candidatos e sucesso nas provas específicas. Grande abraço.

Comentários sobre a Prova de Redação do PS/UFES 2015 (Parte 2)

Na segunda questão da prova, a proposta de uma narrativa facilitou a resposta para o candidato, pois contar uma história faz parte do nosso cotidiano.  Já era um gênero esperado, por sua constância nos últimos vestibulares. O tema da narrativa deveria ser a relação entre uma pessoa idosa e uma criança, ou, nos termos do comando, "em que uma pessoa idosa tenha como sua única companhia uma criança". Além disso, seria necessário levar em consideração o fragmento literário e o excerto de um artigo, abordando reflexões acerca das frágeis fronteiras entre as fases etárias, bem como suas características diferentes e comuns: brincar, reclamar, conhecer, perguntar, ser feliz etc. Vale aqui também a observação do mundo real ou a imaginação. Por isso, a leitura e o conhecimento de mundo do candidato possibilitariam a sua desenvoltura frente ao desafio temático. A Banca Examinadora, certamente, atribuirá a pontuação também aos elementos estruturadores de uma narrativa, a saber: o narrador (ponto de vista em primeira ou terceira pessoa), os dois personagens determinados (o idoso e a criança em mútua companhia), um enredo (constituído de um fato ou uma ação vivenciada pelos dois personagens), um espaço (na cidade, no campo, nas memórias de alguém) e um tempo (passado ou presente). Pelo mínimo número de linhas estipulado para o texto, a história deveria ser breve, seguindo uma estrutura de enredo assim sequenciada: apresentação (de personagens e/ou cenário), conflito (ruptura da harmonia inicial da história), clímax (ápice do conflito) e desfecho (solução ou não do conflito). No entanto, que fique claro que essa sequência de enredo não é uma camisa de força, prevalecendo aí a maneira como o candidato vai apresentando os elementos da narrativa de forma a manter a atenção do leitor, que nesse caso é um exigente avaliador. O diálogo entre os personagens poderia ser estabelecido usando-se o discurso direto, o indireto ou ainda o indireto livre. Essa questão apresentou um grau menor de dificuldade e uma ótima oportunidade para o candidato figurativizar sua cosmovisão sobre a infância e a velhice como fatores de constituição de todo ser humano.

Comentários sobre a Prova de Redação do PS/UFES 2015 (Parte 1)



Mais uma vez, a Banca Examinadora de Redação do Vestibular da UFES acrescenta um gênero discursivo que desconstrói o trabalho docente e discente apenas com o "famigerado" tema, como tem sido ainda a práxis de alguns professores em cursinhos preparatórios. Debater em sala de aula os temas atuais torna as aulas bem interessantes, como também fortalece e mesmo forma opiniões dos jovens brasileiros. Por outro lado, é importante que se faça um trabalho ao longo da formação estudantil com a prática de variados gêneros discursivos. Na prova deste ano, propôs-se a produção de três gêneros de texto, a saber: um panegírico, uma narrativa e uma descrição.

Vamos passo a passo:

O panegírico, como se lê no comando da primeira questão da prova, é um discurso elogioso a alguém ou a algo. Os textos de apoio da coletânea estabelecem as diretrizes para a depreensão do tema: os valores éticos na sociedade. Ora, em primeiro lugar, o candidato precisaria pensar sobre o desenvolvimento do tema, simulando uma situação contextualizada de elogio a alguém, cuja conduta representasse valores irrepreensíveis, ou observando, da realidade atual, situações que espelhassem a retidão, a honestidade, a bondade ou qualquer outra virtude adquirida que não fosse pautada pelo valor de troca do mundo capitalista. Como há, em nossa sociedade, pessoas ou situações que merecem elogios por causa de atitudes e comportamentos ilibados, a variedade temática da questão vai desde a devolução de uma carteira recheada de dinheiro ao dono até a atuação daquele cidadão dignitário que faz ou fez diferença na humanidade. A partir dessas nuances, os candidatos selecionariam, seja pela imaginação, seja pela observação do mundo, quaisquer ideias que atendessem ao tema. O panegírico, por sua vez, é um gênero proferido oralmente a partir de um texto escrito e apresenta alguns elementos estruturais: um orador (representante de um grupo ou de uma instituição, por exemplo), o vocativo (a plateia a que se dirige o orador) e uma situação em que o discurso é apresentado  (encerramento de ano em escola, homenagem em reunião de professores ou qualquer outro contexto). Geralmente, esse gênero é produzido em primeira pessoa do singular ou do plural. A questão, com valor maior na prova, será o fiel da balança, ou seja, determinará, por seu grau médio de dificuldade, o resultado do exame ou mesmo do processo seletivo. 

Continuamos na parte 2.

Estou de volta...

Prezados seguidores
Vi suas postagens e peço que me desculpem por não ter respondido. Não foi descaso, vocês tenham certeza. Deixei o blog um pouco de lado por estar demais envolvida com questões pessoais urgentes, como ainda estou. Por isso, relevem se não lhes dei a devida atenção.
No entanto, hoje, porque muitos fizeram a prova de redação do Vestibular da UFES, vou postar aqui breves comentários sobre ela. Estejam certos de que, no próximo ano, ficarei mais presente neste espaço, interagindo com quem se interessa por leitura, literatura e produção de texto. E, claro, orientações para os vestibulares. Grande abraço!📝

domingo, 9 de novembro de 2014

Comentário breve sobre a prova de redação ENEM2014

O tema da prova de redação do ENEM2014 desagradou alunos e, é bem possível, alguns professores. Não fazia parte da famigerada lista que se insiste em elaborar, com o apoio da mídia. Houve candidato que declarou nunca ter ouvido falar da "publicidade infantil em questão no Brasil". As facilidades que alguns professores de redação tendem a "promover" vão de encontro ao que se espera de um candidato a vestibulares importantes do país: senso crítico e capacidade de raciocínio argumentativo em defesa de um ponto de vista. Fazer "nariz de cera" ( o chamado lero-lero, que cabe em qualquer tema) é um tiro que sai pela culatra. Trata-se de um engodo já desmascarado há muito pelas bancas examinadoras. Pouco mudou, pelo visto.  Se os professores não abordaram o tema em sala de aula, é porque não são adivinhos com bola de cristal. Alguns alunos continuam enganando-se quando esquecem que escrever é prática diária a partir de organização de ideias. Possivelmente muitos criticarão o INEP - em vez de autoavaliarem seu desempenho e seu trabalho.

No entanto, há que se esperar que a maioria tenha entendido a proposta, pois o tema faz parte da dinâmica da vida contemporânea. O candidato então poderia começar posicionando-se sobre a publicidade em geral, por exemplo, na perspectiva de que ela pretende estimular o consumo de qualquer produto, a despeito de sua utilidade ou necessidade. A publicidade em geral atua sobre qualquer indivíduo do mundo industrializado, desde crianças até adultos. No desenvolvimento de sua redação, o candidato poderia apresentar ideias extraídas da coletânea de textos, selecionada como diretriz para concordância ou discordância na argumentação. Além dessas ideias, também seria interessante que cada um apresentasse argumentação própria, demonstrando ser capaz de desenvolver reflexões por escrito. Sobre o tema específico, poderia afirmar que as crianças são muito vulneráveis à publicidade de produtos infantis, os quais surgem dia após dia, com base na programação veiculada pela mídia televisiva, hoje ampliada pela internet. Por outro lado, seria bom frisar sobre a importância de controle na divulgação de bens de consumo, como tablets, smartphones e demais produtos eletrônicos, entre outros, que se banalizam à medida que seu acesso é facilitado, seja pelo comércio, seja pela leniência dos pais. Nesse sentido, os pais devem exercer seu papel fundamental de educar seus filhos sem ceder diante dos apelos comerciais. Além disso, seria interessante lembrar que, no Brasil, existem leis reguladoras do uso de imagem sedutoras, como animais ou mesmo crianças , para veicular anúncios publicitários de produtos infantis. O candidato também poderia desenvolver a ideia de que o comércio se beneficia da voracidade dos pequenos consumidores, principalmente em datas como no dia das crianças ou nas festividades natalinas. Para concluir, seria sólido reafirmar as ideias desenvolvidas, sintetizando-as e reforçando, caso considerasse a educação dos pais para enfrentar o consumo desenfreado de seus filhos, a importãncia desse papel paterno e materno. Como se pode observar nos alinhavos destas considerações, o tema não foi tão difícil de ser abordado, bastando ao candidato um pouco de reflexão sobre a proposta. Espero que os candidatos tenham sucesso no resultado. Até a próxima.

Os temas de redação do ENEM, incluindo o de 2014

TEMAS QUE JÁ CAÍRAM
1998:  Viver e aprender
1999:  Cidadania e participação social
2000:  Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional
2001:  Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?
2002:  O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita?
2003:  A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo
2004:  Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação
2005:  O trabalho infantil na sociedade brasileira
2006:  O poder de transformação da leitura
2007:  O desafio de se conviver com as diferenças
2008  Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivo financeiros a proprietários que deixarem de desmatar; ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar
2009:  O indivíduo frente à ética nacional
2010:  O trabalho na construção da dignidade humana
2011:  Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado
2012:  Movimento imigratório para o Brasil no século 21
2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
2014: Publicidade infantil em questão no Brasil