Quem sou eu

Minha foto
"Ao fundo sou eu, mas será verdade / que sou? O fundo é que me inventa? / Terei mesmo essa identidade / feita de tinta apenas?" Palavras que respiram por Miguel Marvilla

terça-feira, 26 de novembro de 2013

"Penso, Logo Sou Ateu": falso ou verdadeiro? Ou, no melhor do inglês: fake or true?

Deparei agora, no feed de notícias do Facebook, com um perfil intitulado "Penso, Logo Sou Ateu" que veicula uma foto de mulher em desespero com a seguinte legenda: "Fui debater com um ateu / Ele usou fatos, dados científicos, história, arqueologia, lógica, razão e até a própria bíblia contra mim... Isso não é justo!!!" Para não ser deselegante e iniciar uma discussão infundada (ou fundada em certezas, como quiserem) com quem postou, respondo aqui, no meu espaço, à intolerância de certo ateísmo. Antes de iniciar minha contestação à publicação, coloco-me como "livre pensadora", pois religação (ou religião) com o sagrado é um princípio independente de dogmas, sectarismos, denominações, nomeações etc.
Vamos ao título: trata-se de uma falácia, em que a premissa maior seria "quem pensa é ateu". Premissa menor: "Ora, eu penso"; "logo, sou ateu". O pensamento é válido, mas falso. Por isso, é um sofisma bem ao gosto dos socráticos. E a "certeza" da premissa maior se desgasta por ser excludente. Aí reside a falsidade... Quanto à imagem da mulher, se adotarmos uma análise semiótica, conseguiremos chegar ao nível profundo do discurso carregado de  uma ideologia que se pretende dominante e dona da verdade: a mulher desesperada por não pensar. Por que mulher? Por ser submissa e manipulável, superficial e desbotada, um ser anencéfalo e desprovido de argumentos. Por isso a frase final: "Isso não é justo!!!". Essa montagem tendenciosa e de cunho ideológico-patriarcal se rende ela mesma à bobagem que enuncia. E acrescento, sem querer ser dona da verdade: o ateu que escreveu isso não pensa. E devolvendo assim o sofisma: Não penso; logo, sou ateu. Valha-me, Jorge!

domingo, 24 de novembro de 2013

Finalmente, a apostila de resumos e análises das obras literárias UFES 2014...

Gente, custou... Mas saiu... Muitas vezes temos que adiar nosso planejamento, por conta de outras urgências, como ficar com a neta - ver um filho crescer é lindo, ver uma neta crescer é sublime! - ou recomeçar com aulas de literatura na Universidade. No entanto, já estou fazendo as cópias para os primeiros interessados. Ainda é tempo de estudar, ainda é tempo de revisar... Um grande abraço!

domingo, 27 de outubro de 2013

Sobre o tema da prova de redação ENEM/2013

Antes mesmo de ler na íntegra a prova de redação do ENEM/2013, já podemos adiantar algumas ideias para quem saiu do teste mais cedo.
O tema "Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil" necessariamente deverá articular-se ao problema da ingestão de bebidas alcoólicas, apresentado como uma das causas do elevado número de vítimas no trânsito brasileiro. Espera-se que o candidato se posicione sobre as consequências da Lei que trata com rigor o condutor alcoolizado de um veículo. Das duas uma: ou o candidato adota um ponto de vista avaliando positivamente a Lei Seca, apontando como resultado a redução, mesmo que mínima, dos acidentes de trânsito, senão, pelo menos, a conscientização que muitos brasileiros passaram a ter a partir dela, ou assume uma perspectiva mais negativa, argumentando que os números de acidentes nas cidades e nas estradas recrudesceram, ao invés de diminuírem, uma vez que a ingestão do álcool é uma entre tantas causas da situação desastrosa no tráfego de veículos, como a negligência e a imprudência de motoristas, além da falta de manutenção das rodovias brasileiras.
A segunda posição, talvez a mais próxima de nossa realidade, não exclui a primeira, porquanto a Lei Seca supostamente atingiria, repito, uma das causas de mortes no trânsito brasileiro; no entanto, tomada isoladamente, a medida torna-se estéril, haja vista que alguns mecanismos para burlar o controle e a fiscalização, como os avisos no twitter e no waze, revelam a falta de seriedade e de responsabilidade de quem dirige alcoolizado. Além disso, mesmo com o aumento das blitz policiais, o transgressor da lei encontra a leniência de outras leis que não preveem punição mais rigorosa ao infrator.
O tema, por fazer parte do cotidiano da juventude brasileira, já que a maioria das vítimas encontra-se na faixa entre 18 e 24 anos, não apresenta grande dificuldade para ser desenvolvido, mas requer do candidato atenção para não repetir frases feitas ou cair nos clichês ("o carro é uma arma", por exemplo). Quem souber argumentar com fatos, dados e elementos inferidos da coletânea de textos - sem copiá-los -, possivelmente redigirá um texto sem grandes entraves, a não ser aqueles inerentes a qualquer exame importante, como o nervosismo e a falta de tempo na organização das ideias. Fora isso, o INEP mais uma vez acrescentou aos temas já propostos no ENEM uma questão de elevada gravidade, possibilitando ao candidato refletir sobre a própria conduta ou a de seu círculo social, desde familiares, colegas de escola, amigos, até, por que não, dos legisladores brasileiros, que não promovem as mudanças necessárias para evitar a impunidade.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Machado de Assis vegetariano: isso não é piada...

MACHADO DE ASSIS QUERIA SER VEGETARIANO
Vejam esta crônica escrita em 5 de março de 1893 na coluna "A Semana" no jornal "Gazeta de Notícias".

Quando os jornais anunciaram para o dia 10 deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi mui diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados; eu agradeci o acontecimento ao céu. Boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarismo.

Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Certo, a arte disfarça a hediondez da matéria. O cozinheiro corrige o talho. Pelo que respeita ao boi, a ausência do vulto inteiro faz esquecer que a gente come um pedaço de animal. Não importa, o homem é carnívoro.

Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarismo. Deus criou o homem para os vegetais, e os vegetais para o homem; fez o paraíso cheio de amores e frutos, e pôs o homem nele. Comei de tudo, disse-lhe, menos do fruto desta árvore. Ora, essa chamada árvore era simplesmente carne, um pedaço de boi, talvez um boi inteiro. Se eu soubesse hebraico, explicaria isto muito melhor.

Vede o nobre cavalo! O paciente burro! O incomparável jumento! Vede o próprio boi! Contentam-se todos com a erva e o milho. A carne, tão saborosa à onça, — e ao gato, seu parente pobre, — não diz cousa nenhuma aos animais amigos do homem, salvo o cão, exceção misteriosa, que não chego a entender. Talvez, por mais amigo que todos, come-se o resto do primeiro almoço de Adão, de onde lhe veio igual castigo.

Enfim, chegou o dia 10 de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. Chamei a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão grande, que devíamos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano. Nada de ovos, nem leite, que fediam a carne. Ervas, ervas santas, puras, em que não há sangue, todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes tiram a vida. Convenci a todos; não tivemos almoço nem jantar, mas dous banquetes. Nos outros dias a mesma cousa.

Não desmaies, retalhistas, nesta forte empresa. Dizia um grande filósofo que era preciso recomeçar o entendimento humano. Eu creio que o estômago também, porque não há bom raciocínio sem boa digestão, e não há boa digestão com a maldição da carne. Morre-se de porco. Quem já morreu de alface? Retalhistas, meus amigos, por amor daquele filósofo, por amor de mim, continuei a resistência. Os vegetarianos vos serão gratos. Tereis morte gloriosa e sepultura honrada, com ervas e arbustos. Não é preciso pedir, como o poeta, que vos plantem um salgueiro no cemitério; plantar é conosco; nós cercaremos as vossas campas de salgueiros tristes e saudosos. Que é nossa vida? Nada. A vossa morte, porém, será a grande reconstituição da humanidade. Que o Senhor vo-la dê suave e pronta.

Compreende-se que, ocupado com esta passagem de doutrina à prática, pouco haja atendido aos sucessos de outra espécie, que, aliás, são filhos da carne. Sim, o vegetarismo é pai dos simples. Os vegetarianos não se batem; têm horror ao sangue. Gostei, por exemplo, de saber que a multidão, na noite do desastre do Liceu de Artes e Ofícios, atirou-se ao interior do edifício para salvar o que pudesse; é ação própria da carne, que avigora o ânimo e a cega diante dos grandes perigos. Mas, quando li que, de envolta com ela, entraram alguns homens, não para despejar a casa, mas para despejar as algibeiras dos que despejavam a casa, reconheci também aí o sinal do carnívoro. Porque o vegetariano não cobiça as causas alheias; mal chega a amar as próprias. Reconstituindo segundo o plano divino, anterior à desobediência, ele torna às idéias simples e desambiciosas que o Criador incutiu no primeiro homem.

Se não pratica o furto, é claro que o vegetariano detesta a fraude e não conhece a vaidade. Daí um elogio a mim mesmo. Eu não me dou por apóstolo único desta grande doutrina. Creio até que os temos aqui, anteriores a mim, e, — singular aproximação! — no próprio conselho municipal. Só assim explico a nota jovial que entra em alguns debates sobre assuntos graves e gravíssimos.

Suponhamos a instrução pública. Aqui está um discurso, saído esta semana, mas proferido muito antes do dia 11 de março; discurso meditado, estudado, cheio de circunspeção (que o vegetariano não repele, ao contrário) e de muitas pontuações alegres, que são da essência da nossa doutrina. Tratava-se dos jardins da infância. O Sr. Capelli notava que tais e tantos são os dotes exigidos nas jardineiras, beleza, carinho, idade inferior a trinta anos, boa voz, canto, que dificilmente se poderão achar neste país moças em quantidade precisa

Não conheço o Sr. Maia Lacerda, mas conheço o mundo e os seus sentimentos de justiça, para me não admirar do cordial não apoiado com que ele repeliu a asseveração do Sr. Capelli. Não contava com o orador, que aparou o golpe galhardamente: "Vou responder ao se não apoiado, disse ele. As que encontramos, remetendo-as para lá, receio, que, bonitas como soem ser as brasileiras, corram o risco de não voltar mais, e sejam apreendidas como belos espécimes do tipo americano”.

Outro ponto alegre do discurso é o que trata da necessidade de ensinar a língua italiana, fundando-se em que a colônia italiana aqui é numerosa e crescente, e espalha-se por todo o interior. Parece que a conclusão devia ser o contrário; não ensinar italiano ao povo, antes ensinar a nossa língua aos italianos. Mas, posto que isto não tenha nada com o vegetarismo, desde que faz com que o povo possa ouvir as óperas sem libreto na mão, é um progresso.

ASSIS, Machado de. Obras completas. Volume III. 9. reimpressão. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 576-8






sábado, 4 de maio de 2013

A bisa que tem Facebook



Nasceu em meados da década de 30. Como toda jovem de sua geração, recebeu uma educação doméstica primorosa, desde cozinhar os pratos mais elaborados até executar os sofisticados bordados com linha de seda, sem esquecer as lições de piano, como também as agulhas de tricô e crochê, o capricho de manter a casa limpa, a máquina de costura a pedal que muitas vezes a transformava em provedora da família; tudo isso sem negligenciar a extensa prole que educava com carinho e zelo – por vezes excessivo – mas sempre zelo. Sua profissão: prendas do lar.
Namorou cedo. Casou cedo. Teve uma festa simples, sem batom – porque o rígido pai não permitia maquiagem – sem, no entanto, deixar de ser uma das mais belas, no viço de seus dezessete anos, com direito a dama de honra, a bolo de três andares e a séquito de convidados. As noivas iam a pé para a igreja, honrando a plateia sem convite com sua passagem de princesa. Era época em que se sonhava possuir uma casa ensolarada, com cortinas esvoaçantes de voil e limpinhas e com cheiro fresco e companheiras de um ambiente feliz.
Foi feliz, mas logo, logo percebeu a realidade nada romântica da convivência. Nunca arredou de suas ideias, que ainda segue, depois de criados os filhos e nascidos os netos. Agora aguarda a chegada da terceira geração. Viúva,  cuida da saúde e não se descuida do corpo, pois a mãe sempre lhe dizia que “quem não se ajeita, por si só se enjeita”. Pinta seus cabelos, suas unhas e nunca desce de seu salto, não mais o quinze, mas no mínimo uns quatro centímetros, ancorados no modelo anabela. A passagem da vida conserva ainda a antiga beleza retratada em um pôster pendurado na parede do corredor de seu apartamento, mas no inverso de Dorian Grey, porque sua alma bondosa acrescentou-lhe as rugas e fixou-lhe o caráter de retidão no qual se espelham os familiares.
A moda: usava muito “tailleur”. Usava luvas e casquetes nos eventos mais chiques, como a ópera e os casamentos. Aderiu às calças compridas, sempre com a elegância dos clássicos de outrora. Hoje escolhe roupas e bijuterias coloridas, acessórios infalíveis para emoldurar  sua feminilidade. Mas, sobretudo – pasmem –, usa a internet. Atualizada, tem contatos no Skype e no Facebook.  Claro, com assessoria. Ainda não tem smartphone, mas sonha com um notebook ou um tablet, a exemplo de seu irmão mais velho, completamente “high tech”.  Quando faz uma postagem na timeline de parentes e conhecidos, surpreende pela atualidade.  É uma bisavó tradicional, mergulhada na contemporaneidade. Não é a única, certamente, que rompeu as barreiras que o suposto tempo poderia impor. Sim, é uma bisa que tem Facebook.
Virgínia Albuquerque
Em 4 de maio de 2013

Apostila de análise e resumo das obras literárias VESTIBULAR UFES 2014

Aviso aos interessados: nossa apostila está em fase final. A leitura demandou um pouco de tempo e a escrita não é muito fácil. Assim que estiver pronta, entro em contato com cada um de vocês. Grande abraço.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Homenagem a um homem simples: Inácio


Ausência
Carlos Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Assinatura Carlos Drummond 1

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

OBRAS LITERÁRIAS - VESTIBULAR UFES 2014

Olá, pessoal

Segue abaixo a lista de obras literárias indicadas para o VESTIBULAR 2014 da UFES. Já comecei a preparar resumos e questões discursivas com respectivas respostas.
A apostila custará dez reais. Quem estiver interessado, basta entrar em contato comigo. Um abraço.

OBRAS LITERÁRIAS UFES 2014

1. Monólogo de uma sombra - Augusto dos Anjos (POESIA)
2. Dois perdidos numa noite suja - Plínio Marcos (TEATRO)
3. Terra sonâmbula - Mia Couto (PROSA NARRATIVA - ROMANCE)
4. Singularidades de uma rapariga loira, Adão e Eva no paraíso, Civilização e O defunto - Eça de Queiroz (PROSA NARRATIVA - CONTOS)
5. O recado do morro - João Guimarães Rosa (PROSA NARRATIVA - NOVELA)
6. As meninas - Lygia Fagundes Telles (PROSA NARRATIVA - ROMANCE)
7. O matador - Patrícia Melo (PROSA NARRATIVA - ROMANCE)
8. Zero - Douglas Salomão (POESIA)
9. Ai de ti, Copacabana - Rubem Braga (PROSA NARRATIVA - CRÔNICAS)

domingo, 20 de janeiro de 2013

Considerações sobre a prova de redação do vestibular UFES 2013: texto argumentativo, carta de solicitação de segunda via de cartão bancário e diálogo argumentativo

A primeira questão da prova apresentou proposta de texto argumentativo sobre "A LEITURA ENTRE OS ESTUDANTES BRASILEIROS". Pela primeira vez, a Banca Examinadora fez autorreferência, no intuito de contextualizar o TEMA e delimitar a situação da atividade de ler no Brasil nos últimos dez anos. O texto de apoio indicou im...portantes dados sobre as práticas preferidas por alunos, como assistir televisão, escutar música, descansar, entre várias outras, inclusive a leitura, embora não seja uma atividade preferencial, conforme se depreende da pesquisa do Instituto Pró-Livro.
O texto produzido deveria então estruturar-se em suas partes elementares. Na INTRODUÇÃO, o candidato opinaria sobre a prática de ler entre os estudantes, MAS observem que a TESE já está formulada no enunciado: "percebe-se que a situação relativa à leitura de jornais, revistas, livros e textos da internet não melhorou"; contrariar esse posicionamento seria erro. No DESENVOLVIMENTO, o candidato poderia compor a ARGUMENTAÇÃO a partir dos percentuais apontados na pesquisa, pois, para os brasileiros, há práticas mais prazerosas que o ato de ler, como ver televisão, sair com amigos, ouvir música etc. Por fim, solicitou-se sugestão de "alternativas e ações para que o Brasil se torne uma nação de muitos leitores", o que constituiria a CONCLUSÃO. O candidato poderia, por exemplo, apontar algumas ações existentes, como projetos de leitura entre crianças e adolescentes; ou ainda sugerir algum estímulo sob forma de premiação a estudantes leitores, como bolsas de estudo, intercâmbio cultural etc.
É claro que essa estrutura-padrão poderia ter um toque de estilo individual, porém a linguagem deveria ser objetiva e impessoal, como se espera de um texto argumentativo.
Enfim, considerei a questão de fácil resolução, pois o tipo de texto argumentativo é amplamente abordado nas aulas do Ensino Médio. O tema, por sua vez, bem previsível, possibilitou que os candidatos demonstrassem suas ideias sem grandes malabarismos mentais.

-o-o-o-o-o-o-o-o-
A segunda questão, bem-humorada, pode ter sido uma armadilha aos menos atentos: propôs-se a escrita de uma carta EM PROSA. NÃO DEVERIA, PORTANTO, SER REDIGIDA EM VERSOS. Ou seja, nada de escrever POEMA. O REMETENTE deveria ser um(a) CLIENTE e o DESTINATÁRIO um(a) GERENTE de banco, portanto com um certo grau de formalidade entre os interlocutores, com vocativo e formas cerimoniosas de tratamento, como Senhor(a) gerente e Vossa Senhoria.
Seria necessário simular a perda de cartão bancário e obedecer ao roteiro formulado no comando da questão, a saber:
- identificação pessoal
- providências tomadas (como o registro de Boletim de Ocorrência em Delegacia de Polícia Civil e o cancelamento do cartão junto à instituição bancária)
- justficativa para o pedido (como a necessidade da segunda via do cartão, por se tratar de um instrumento fundamental nas transações comerciais contemporâneas).
MAS ATENÇÃO: IDENTIFICAÇÃO PESSOAL NÃO SIGNIFICA COLOCAR O NOME DO CANDIDATO NA PROVA, sob pena de ser eliminado do Processo Seletivo. Seria uma autoapresentação, como "Sou cliente desse banco há dois anos, titular de uma conta corrente de número XXXX-X, CPF XXXXXXXXX-XX".
Em suma: foi uma ótima questão, embora (e por isso mesmo) exigisse muita atenção do candidato. A Banca Examinadora demonstrou coerência pedagógica na formulação da proposta, pois situa o gênero epistolar entre as práticas sociais cotidianas, ao inseri-lo em uma situação comum ao indivíduo contemporâneo. Nota MIL!
-o-o-o-o-o-o-o-o-
A última questão da prova contemplou a proposta de um diálogo entre um amigo e uma amiga sobre adultério, fidelidade, traição, poligamia e temas afins. O tema do diálogo, portanto, foi inesperado: RELACIONAMENTOS AMOROSOS.
Diálogo argumentativo: de caráter persuasivo, visa apresentar argumentos a fim de provocar, entr...e os interlocutores, mudança de ideia, atitude ou comportamento; não há narrador. Estrutura dialógica, graficamente disposta em parágrafos e travessões. Os argumentos seriam os que os interlocutores trocariam em função de uma tese e defesa dessa tese.
Utilizando fragmento do texto teatral de Martins Pena, que tem estrutura dialógica, o examinador certamente esperava que o candidato connstruísse um debate em que um dos interlocutores defendesse, por exemplo, a FIDELIDADE ou a MONOGAMIA, e o outro, a ideia, contida no texto 2, de que o ser humano só pode ser
leal aos próprios desejos e a sociedade seria mais feliz com a POLIGAMIA, pois haveria menos hipocrisia e menos traição, com a resolução de conflitos de forma clara e honesta. Ou vice-versa, já que a monogamia é uma necessidade social para o surgimento do respeito mútuo e autocontrole dos desejos. Poderia ser argumentado, por exemplo, que as sociedades estabelecem seus códigos de leis conforme outros aspectos, como religiosidade, hábitos culturais, presença de conflitos, período histórico... Por exemplo, sociedades antigas que aceitavam a poligamia hoje não a praticam mais.
Esse gênero foi proposto em uma prova de vestibular de inverno em 2006. Havia pouca expectativa quanto à sua proposição, porém acertadamente a Banca Examinadora testou a capacidade de leitura e persuasão do candidato, tão necessária ao desenvolvimento crítico de um estudante universitário. Ótima questão!