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"Ao fundo sou eu, mas será verdade / que sou? O fundo é que me inventa? / Terei mesmo essa identidade / feita de tinta apenas?" Palavras que respiram por Miguel Marvilla

sábado, 4 de maio de 2013

A bisa que tem Facebook



Nasceu em meados da década de 30. Como toda jovem de sua geração, recebeu uma educação doméstica primorosa, desde cozinhar os pratos mais elaborados até executar os sofisticados bordados com linha de seda, sem esquecer as lições de piano, como também as agulhas de tricô e crochê, o capricho de manter a casa limpa, a máquina de costura a pedal que muitas vezes a transformava em provedora da família; tudo isso sem negligenciar a extensa prole que educava com carinho e zelo – por vezes excessivo – mas sempre zelo. Sua profissão: prendas do lar.
Namorou cedo. Casou cedo. Teve uma festa simples, sem batom – porque o rígido pai não permitia maquiagem – sem, no entanto, deixar de ser uma das mais belas, no viço de seus dezessete anos, com direito a dama de honra, a bolo de três andares e a séquito de convidados. As noivas iam a pé para a igreja, honrando a plateia sem convite com sua passagem de princesa. Era época em que se sonhava possuir uma casa ensolarada, com cortinas esvoaçantes de voil e limpinhas e com cheiro fresco e companheiras de um ambiente feliz.
Foi feliz, mas logo, logo percebeu a realidade nada romântica da convivência. Nunca arredou de suas ideias, que ainda segue, depois de criados os filhos e nascidos os netos. Agora aguarda a chegada da terceira geração. Viúva,  cuida da saúde e não se descuida do corpo, pois a mãe sempre lhe dizia que “quem não se ajeita, por si só se enjeita”. Pinta seus cabelos, suas unhas e nunca desce de seu salto, não mais o quinze, mas no mínimo uns quatro centímetros, ancorados no modelo anabela. A passagem da vida conserva ainda a antiga beleza retratada em um pôster pendurado na parede do corredor de seu apartamento, mas no inverso de Dorian Grey, porque sua alma bondosa acrescentou-lhe as rugas e fixou-lhe o caráter de retidão no qual se espelham os familiares.
A moda: usava muito “tailleur”. Usava luvas e casquetes nos eventos mais chiques, como a ópera e os casamentos. Aderiu às calças compridas, sempre com a elegância dos clássicos de outrora. Hoje escolhe roupas e bijuterias coloridas, acessórios infalíveis para emoldurar  sua feminilidade. Mas, sobretudo – pasmem –, usa a internet. Atualizada, tem contatos no Skype e no Facebook.  Claro, com assessoria. Ainda não tem smartphone, mas sonha com um notebook ou um tablet, a exemplo de seu irmão mais velho, completamente “high tech”.  Quando faz uma postagem na timeline de parentes e conhecidos, surpreende pela atualidade.  É uma bisavó tradicional, mergulhada na contemporaneidade. Não é a única, certamente, que rompeu as barreiras que o suposto tempo poderia impor. Sim, é uma bisa que tem Facebook.
Virgínia Albuquerque
Em 4 de maio de 2013

Apostila de análise e resumo das obras literárias VESTIBULAR UFES 2014

Aviso aos interessados: nossa apostila está em fase final. A leitura demandou um pouco de tempo e a escrita não é muito fácil. Assim que estiver pronta, entro em contato com cada um de vocês. Grande abraço.